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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sobre a inovação em fármacos no Brasil


Não se pode considerar soberana a nação que utiliza fármacos de diversos sotaques estrangeiros para promover a saúde de sua população. Somos extremamente incipientes em inventar ou descobrir novos fármacos, e dependemos da capacidade de invenção/inovação ou descoberta de outros países, para incorporar estas novidades terapêuticas ao nosso uso, pagando elevados preços por esta grave dependência tecnológica. Avançamos na questão dos medicamentos genéricos, ampliando um pouco, embora menos do que seria desejável e necessário, o atendimento farmacêutico à parcela de nossa população que logra ter acesso e poder de compra, deste tipo de medicamentos, de preços obrigatoriamente inferiores em 40% aos de marca. Mais recentemente criou-se o programa de farmácia popular no governo federal que humanizou o tratamento de pacientes de baixa renda e doenças crônicas de elevada morbidez, atendendo à população menos favorecida e à terceira idade, sobretudo os aposentados. Entretanto, se estes atos demonstram relativo avanço na questão dos fármacos e medicamentos no Brasil, eles não foram capazes de sanarem, por falta de definições políticas maiores, nossa extrema dependência externa, pois muito pouco do que precisamos em termos de fármacos somos capazes de "saber-fazer" ou termos a tecnologia em mãos. Muito pelo contrário, importamos a avassaladora maioria dos fármacos - princípios ativos - que se tornarão os medicamentos genéricos de nosso uso, inclusive nos programas governamentais de promoção e atenção à saúde, vindos de distantes e longínquos fornecedores localizados não raramente na China, na Índia ou na Coréia. Isso caracteriza uma situação de dependência externa, extrema, que compromete a soberania nacional. Em nosso País, logramos construir em algumas décadas, mas com árduo trabalho de diferentes atores sociais, todos motivados e imbuídos do propósito de nos capacitar no ensino pós-graduado e na pesquisa científica, criando moderno, eficiente e invejável sistema de pós-graduação, capaz de titular ca. 12000 doutores por ano, em praticamente todas as áreas do conhecimento científico, tecnológico e em artes e letras. Embora ainda sub-dimensionado em relação às nossas efetivas necessidades e à nossa população de ca. 192 milhões de brasileiros, segundo dados do Censo de 2010, este admirável contingente de pessoas qualificadas vive a dita "Era do Conhecimento", de contínuo avanço tecnológico, em ambientes quase que exclusivamente acadêmico, visto o pouco número de doutores atuando em nossas empresas. Asseguramos algum efeito multiplicador, como consolo, ampliando o nível de formação de nossos graduados ao terem docentes titulados em seus cursos, mas não qualificamos os postos de trabalhos na maioria das empresas e com isso não asseguramos nossa capacidade de inovação na indústria brasileira, inclusive na farmacêutica. Aqui se instala, em nossa opinião, um perigoso círculo vicioso, embora humanamente compreensível, pois se não há doutores na indústria farmacêutica brasileira, doutores não serão contratados. Não-doutores, não contratarão doutores, por razões de preservação dos seus postos de trabalho, o que espanta a qualificação destes postos e da capacidade de inovação nas empresas. Há alguns arremedos, aqui ou ali, episódicos, em um verdadeiro faz-de-conta, mas espaço profissional corporativo qualificado, que favoreça e contribua legitimamente, de fato, para uma aproximação efetiva e real com a universidade, viabilizando a transferência e a troca de tecnologias que "falem" nosso idioma, não ocorre nestas impróprias condições.