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sábado, 14 de setembro de 2013

Como quantificar uma inovação terapêutica?

Às vezes é muito bom revermos o que já lemos. Dependendo da motivação que o fazemos, podemos ter boas e proveitosas surpresas. Vou contar uma destas, que me ocorreu recentemente, motivado pela redação de nova edição (3ª) de meu livro, em co-autoria com o Professor Carlos A. M. Fraga, meu Colega do LASSBioR, UFRJ.

  Antes devo comentar alguns pontos sobre a redação de uma nova edição de um livro científico com objetivos definidos, que possam combinar motivação à leitura com atualidade e, ao mesmo tempo, ser cientificamente rigoroso sem se tornar enfadonho. Acreditem. Esta não é uma tarefa fácil, nem simples. Explico! Os desafios de uma nova edição são distintos da primeira. As decisões de conteúdo são mais simples de serem tomadas naquela, pois existem tópicos clássicos da disciplina, em que se situa a obra, que não podem faltar. O desafio compreende incluir-se na primeira edição – aliás, nunca se sabe se é a primeira, até que venha a segunda! – aspectos originais que justifiquem a obra (senão será apenas “mais uma”). Haja criatividade! Numa segunda edição, cumpre ao(s) autor(es) dedicar-se mais pela atualização da obra, completando-a face ao estado da arte. Não é muito complicado decidir o que se deve incluir, mas, ao contrário, é imperioso determinar o que se deve retirar, poupando-se valioso espaço para novo conteúdo. Todos concordarão comigo quando disser que em sua esmagadora maioria os livros científicos de sucesso, têm em suas mais novas edições, sempre, “algumas gramas” a mais do que as edições iniciais, não? Vou usar este argumento para justificar o que afirmei sobre a dificuldade de se retirarem algo eventualmente mais supérfluo, presente numa edição anterior. Para que não haja sacrifício de conteúdo, acredito que basta incluir uma citação bibliográfica adequada referente ao tópico excluído. Mas concordo, ainda assim não é fácil.
Mas então? E os fármacos? Afinal esta é a temática deste blog. Como se trata de um livro de Química Medicinal, disciplina que se dedica aos fármacos, penso estar coerente. E aí chego ao ponto que queria chegar! Vejam bem, a inclusão de novos capítulos para a terceira edição do livro foi definida. Assim as lacunas anteriores ficarão menores e o conteúdo poderá estar mais atual. Afinal, todos os dias nascem novos fármacos e alguns são fantasticamente inovadores. Esta afirmativa, aparentemente simples, deixa de sê-la quando indagamos se os critérios adotados para determinar uma inovação “fantástica”, estão adequados e suficientes. Temos de procurar excluir os aspectos mercadológicos que caracterizam um fármaco classificado como blockbuster, até porque só se detecta com algum tempo de uso clínico. A questão é definir os critérios para determinar ou prever uma inovação fantástica, antes dela vir a ser um blockbuster. Até porque os especialistas afirmam que “a Big Pharma superou a síndrome do blockbuster...!” Então, talvez por isso fui ler alguns antigos artigos, e outros novos também, tratando  sobre a inovação radical em fármacos. Ao lê-los percebi novos ângulos não considerados em leituras anteriores. Não significa que estas leituras anteriores tenham sido menos cuidadosas ou mais superficiais. Não é isso! A questão em meu ponto de vista é a motivação. Uma coisa é ler para aprendermos, outra é ler para se obter respostas. Muda tudo! Mas observei que os exemplos marcantes que sempre considerei como autênticas inovações fantásticas são também aqueles de vários outros pesquisadores e também de clínicos especialistas. É o caso do propranolol, da cimetidina, do captopril, do celecoxibe, do indinavir, da sinvastatina e, mais recentemente, do imatinibe. Estes são de fato inovações fantásticas! Agora nos falta definir entre os fármacos lançados recentemente aqueles que podemos considerar assim. Esta missão não é tão simples e como temos tratado nas últimas postagens de vários novos fármacos elegeremos, como inovações “destacadas”, cabíveis de futuro rótulo de fantásticos, aqueles que atuam através de mecanismos farmacológicos de ação novos. Este será um bom critério, talvez, excluindo-se os fármacos me-too´s.
 
Obrigado por lerem!